domingo, 5 de abril de 2009

BEIRUT...










"Bebendo com duas pessoas, você não deve beber mais do que a que bebe mais, nem menos do que bebe menos. Assim a que bebe mais não te achará um sórdido abstêmio, nem a que bebe menos um bêbado inveterado. Ambas as conotações irão da que bebe menos para a que bebe mais e da que bebe mais para a que bebe menos. No meio - do copo - está a virtude."




Millôr Fernandes






Todos sabem que o pesadelo do bêbado, na posterior sobriedade, são as lembranças que aos poucos vão lhe dando conta das besteiras que fez naquelas horas em que esteve "em outras esferas". Melhor para ele é a amnésia alcóolica.




Pior para o amigo do copo é o que acontece àquele que se julga amigo das letras. Desconfio que a ressaca moral deste último é o dobro da daquele.




Pois também acontece ao (pretenso) escritor (bloguista, cronista, etc) acordar no dia seguinte, olhar o que escreveu no dia anterior, agora publicado em um jornal e agir como um bêbado de ressaca, apavorado: mas eu fiz isso?




Assim me senti outro dia ao reler o que escrevi sobre o Beirute.




A grande vantagem do blog sobre a vida (quem dera pudesse esta ser assim!) é que não satisfeito com que eu escrevera, eu simplesmente deletei!




Imagine a glória que seria apagar um porre!!!!




Mas como o som do Beirut é realmente muito bom, espero poder me redimir com aqueles que, como eu, também torceram o nariz para o que eu escrevi, por meio de uma nova resenha. Assim, literariamente sóbrio, refaço o que escrevi e agora jaz morto em apagado em algum arguivo defunto de meu computador.




Realmente, o Zach Condom, a alma do Beirut, é um fenômeno musical. Figurinha carimbada na cena "underground" do eixo NY-Londontown, nasceu na baixa Califórnia, em meio a toda aquela influência latina, mexicana.




Estudou na Santa Fé High School e, aos quinze anos de idade, na cidade que leva o mesmo nome, lançou o seu primeiro trabalho, um "lo-fi" denominado "The Joys of Losing Wight".




Sempre foi muito inquieto, algo esquisito, um braço menor que o outro, resultado de um acidente doméstico (más línguas dizem que tal acidente envolveria uma gilete, uma banheira...). Essa ligeira deformidade o impediu de tocar guitarra, como gostaria.




Mas, dono de ouvido absoluto e também de uma enorme curiosidade, tornou-se um multi-instrumentista, características que levaram a sua música ser repleta de sons pouco comuns, provenientes de tubas, ukeleles, trompas, trompetes, conchas gigantes marinhas, etc.




Inquieto, como disse, expandiu muito a sua influência musical viajando pelo mundo, principalmente pelo leste europeu e todos aqueles países eslavos, conhecidos por sua enorme melancolia e romantismo exagerado, que nos faz lembrar aquelas tabernas fumacentas, com aqueles sujeitos de bigodes enormes com enormes copos nas mãos, chorando, olhando para as mulheres amadas de longe, cantando por elas, e por aí vai...Aliás, se vocês se derem ao trabalho de procurarem no Youtube pelos vídeos do Beirut (e são muitos) verão exatamente o que estou falando em alguns deles.




Some-se a isso uma ascendência européia, mais especificamente francesa, língua que domina e que chega a cantar em várias canções.




Seu trabalho, portanto, é um "mix" delicioso, exótico, de tudo isso, que eu detestaria ter de rotular de qualquer forma, chamando-o de qualquer nome, classificando-o de qualquer forma.




Seus primeiros CDs, "The Flying Club Cup" e "Gulag Oskertar", o primeiro mais lírico, e segundo, digamos, mais "eslavo", já pode nos dar um belo exemplo de tudo o que falo. Infelizmente, não há nenhum CD nacional do Beirut. Só encontramos, e com facilidade, mas muito caros, os importados. Mas valem a pena.







A Rede Globo, porém, incluiu em uma de suas minisséries - mais precisamente, Capitu - uma das músicas mais belas do Beirut, de seu EP "Lon Gisland", chamada "Elephant Gun". Fizeram um clipe maravilhoso usando essa música e outra do Black Sabbath, usando uma ballet sensacional, super-moderno. Vale a pena conferir. Está no Youtube também.




Até onde eu sei, essa foi a única vez que houve uma relativa popularização do Beirut aqui no Brasil. Mas lá fora, os caras estão arrebentando. Às vezes, chego a desconfiar da eficiência da globalização.




Há bastante pouco tempo, foi lançado lá fora "The March of Zapotech", a última jóia de Zach Condom.




Trata-se de um CD duplo, dois EPs, digamos assim.




O primeiro tem a ver com tudo o que ele fez até hoje. Há gravações ao vivo em lugares, praças no México, muito legal.




O segundo CD, que denominou "Realpeople Holland", porém, é surpreendente: o cara resvalou agora, com toda a sua competência, para as bandas do eletrônico. Só por curtição? Não sei.




Por isso, por todo o seu ecletismo, eu considero o Beirut uma das "vanguardas das vanguardas" da cena musica mundial moderna, até onde vai, naturalmente, o meu parco e modesto conhecimento.




Essa a minha dica de hoje.




Bon apetit!

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