"- Ah, tudo bem...Lembre-se do provérbio árabe: "Os cães ladram e a caravana passa""...pois afinal, a arte não é água destilada: impressões pessoais, preconceitos e seletividade subjetiva comprometem a pureza da verdade cristalina".
-" o principal ingrediente é o talento paran registrar mentalmente longas conversas, uma habilidade que desenvolvi com muito esforço durante pesquisa para escrever "As musas são ouvidas", pois acredito piamente que tomar notas - e principalmente o uso de um gravador - gera interferências e destrói ou distorce qualquer naturalidade que pode existir entre o observador e o observado, entre o nervoso beija-flor e o seu predador potencial".
" - não há nada mais solitário do que ser aspirante a artista sem algo que lembre a uma platéia"
" Claro, esta é a principal tarefa do artista: domar e dar forma a uma visão criativa em estado bruto".
" Não sou releitor assíduo de meus próprios livros: o que está feito, está feito."
"Ocasionalmente dou um peso (de papel, cristal, coleção que fazia) a uma amigo muito especial, e ele sempre sai dos meus preferidos, pois como disse Colette naquela tarde distante, quando declarei não poder aceitar como presente algo que ela obviamente adorava: "Meu caro, não há razão para dar de presente algo que a gente não valoriza".

"Ela pertence à seita mais inapelável e rapidamente aprisionável de Nova York, os talentosos sem talento; sensíveis demais para aceitar um ambiente provinciano, embora insuficientemente sensíveis para circular no meio que tanto desejam, eles se arrastam, neuróticos, alimentando-se das sobras da vida nova-iorquina".
"Só o sucesso, e mesmo assim apenas no auge, pode trazer o alívio. Mas, para os artistas sem arte, é sempre tensão sem alívio, irritação sem perda resultante".
Truman Capote
Os Cães Ladram
São trechos do livro que leio, desde ontem, tomado pela insônia.
Engraçado, eu pensei - já sabia, claro, que se tratava de provérbio árabe -, mas eu pensei que apenas o nosso Ibrahim Sued o usasse, mas não. Truman Capote, lá pelos idos de 1950, já o adotara, talvez então antes mesmo de nosso folclórico colunista, o que não seria difícil. Ibrahim, embora descendente de árabes, talvez não tivesse como ter ciência de um provérbio pelos livros, tão distantes de sua vida tão glamorosa. Deixemos o Ibrahim descansar em paz, ele era
muito divertido, eu gostava muito dele.
muito divertido, eu gostava muito dele.O fato é que ontem, ao chegar em casa do trabalho, eu comecei a ler o "Elogio da Madrasta", recém-lançado pela livro de Mario Vargas Llosa pela Editora Allfaguara, que está reeditando toda a sua obra. Trata-se de uma incursão do Nobel peruano à literatura erótica. Extremamente original, como tudo o que ele brilhantemente faz. Mas até o final da primeira parte da noite, lá pela metade do livro, que é curtinho, eu nele não me havia ainda engatado completamente. Cedo, porém, par
a dele fazer algum juízo. O peruano sempre surpreende.
a dele fazer algum juízo. O peruano sempre surpreende.Então suspendi a leitura, para ver "As Virgens Suicidas", filme de estréia da cineasta Sophie Copolla, com ótimas participações de James Woods e Kathleen Turner (absolutamente irreconhecível como mãe de meia-idade, desprovida de qualquer tipo de vaidade, rechonchuda).
Traz uma história quase inverossímel (e isso pode?) de tão trágica.
Família de classe média de cidade do interior dos Estados Unidos, de formação extremamente religiosa (ai, lá vou eu...) e conceitos absurdamente rígidos traz em seu seio cinco adolescentes, lindas, na flor da idade, a idade em que descobrem a sua sexualidade, as suas primeiras paixões...
A mais nova tenta o suicídio, o que faz com que os pais, assustadíssimos, "afrouxem" um pouco as suas apertadas amarras e convicções: tratam de chamar os rapazes vizinhos para uma espécie, regada a "ponche". Durante o regabofe, porém, a problemática jovem pede para se retirar mais cedo e, da forma mais bizarra possível, é bem-sucedida no seu intento de se matar.
Mas é preciso que se diga, entretanto, que esses pais não são relapsos, não são maus: são ignorantes, assim como o são todos aqueles vitimados pela horrorosa pressão exercida pela hipócrita sociedade que ainda hoje (mas o filme se passa nos anos 70, com uma ótima trilha sonora, por sinal) predomina no sul republicano dos EUA. Na verdade, esses pais amam suas filhas, e estão em pânico com a tragédia que se abateu em sua família e a culpa que se instalou em suas almas.
E mais uma vez tentam desafiar todas as suas crenças e permitem que as suas quatro filhas remanescentes, vestidas exatamente da mesma forma, acompanhem ao baile anual da escolan os quatro mais destacados rapazes da cidade, capitaneados pela sensação juvenil local, Trip, que se interessa pela não menos bela e sensualíssima Lux (Kirsten Durnst). Que acaba dormindo fora de casa!
E mais uma vez tentam desafiar todas as suas crenças e permitem que as suas quatro filhas remanescentes, vestidas exatamente da mesma forma, acompanhem ao baile anual da escolan os quatro mais destacados rapazes da cidade, capitaneados pela sensação juvenil local, Trip, que se interessa pela não menos bela e sensualíssima Lux (Kirsten Durnst). Que acaba dormindo fora de casa!O que naturalmente, vai mexer com todas as estruturas familiares, e levar o drama a um desfecho mais do que surpreendente.
Pode parecer exagerado, o filme. Mas o que pode ser exagerado em uma sociedade como a americana conservadora, catequizada pela ignorância da fé evangélica?
Vale a pena conferir.
Depois, então, do drama, eu passei ao homor sarcástico de Truman Capote, sobre qual, lá adiante, volto a falar.















