
" Trocando em miúdos, pode guardar...as sobras de tudo que chamam lar. As sombras de tudo que fomos nós, as marcas de amor em nossos lençóis! As nossas melhores lembranças...."
Chico Buarque de Hollanda
Falta de elegância, devolver o produto do amor.
É como se devolvesse o amor, ou o amor se devolvesse, ele próprio.
Presentes são mesmo devolvidos, e junto a eles são devolvidos apenas os seus preços, jamais o seu valor; até porque só os primeiros são diferentes, enquanto o segundo, porquanto em nome do amor ofertados, têm sempre o mesmíssimo caráter, o mesmíssimo...valor! Do Sonho de Valsa cantado e eternizado pela Zizi Possi ("se acaso me quiseres...), à retumbante promíscua e corrupta esmeralda de Mme Sukarno (acaso recebida, talvez até tenha sido, por amor).
Como são nascidas as sombras daquilo o que chamamos lar e quantos gritos e sussurros e devaneios e loucuras são necessários para produzir todas as manchas deixadas impunes, e agora recordadas e culpadas como marcas em nossos lençóis, indolores que ficam em muito pouco tempo, como? Nascidas da volúpia, ou do amor? O que damos em presentes? Uma roupa de volúpia, de inconsequência, ou de amor?
Ai, amor, bichinho etéreo, que nem sei que existe....
Uma bofetada! Estalada que seja a bofetada que valha a pena!
Quando um amor se acaba, um homem de valor não quer de volta os presentes que em nome amor ofertou. O que um homem quer no final do amor que viveu é receber uma bofetada, forte, dada de mão aberta e tendo por testemunhas lágrimas nos olhos de quem a desferiu, em bom som: SPLASH!
E quando o amor é devolvido, em meio a lágrimas, bofetadas e e dor, significa bem mais que o dramático montinho de embrulhos perdidos em um sofá da sala, sofá que de repente ficou tão enorme!
Gosto de Fabrício Carpinejar, que descobri há cerca de um ano, quando encontrei o seu excelente "Canalha!" numa livraria em Goiânia.
Diz ele o seguinte:
"Quem já não ouviu de alguém: "Se sair, não volte mais!". Há algo mais desolador do que espiar o quarto pela última vez?
Há algo mais demolidor do que escutar esse desabafo sem concessões, sem releitura? Essa ordem de quem nos convidou para entrar. Esse ultimato "pense agora", "répido", "depressa", como se fosse possível pensar alguma coisa aos berros.

Essa relação que era tudo o que você tinha, era tudo em que você acreditava.
Essa relação agora jugo, propriedade, demolição.
O amor que vale apena merece um sofrimento, mas não merece ser transformado em novelinha barata.
"Se sair não volte mais!" Descobrir que os adultos não brigam, eles se suportam aos poucos.
"Se sair não volte mais" Descobrir que o ódio seduz.
"Se sair não volte mais" Descobrir que a cobrança é maior que a memória.
"Se sair não volte mais" Descobrir que o desejo era vizinho ao despejo.. Ao subtrair uma letra, subtrair uma vida.
"Se sair não volte mais" Descobrir que a maçaneta está presa apenas por um prego.
"Se sair não volte mais" Descobrir que seu casaco é roupa de cama.
"Se sair não volte mais" Descobrir que despedir é desaparecer.
"Se sair não volte mais" Descobrir que o gancho do cabide servirá para desentupir o ralo.
"Se sair não volte mais" DESCOBRIR A OFENSA DENTRO DA OFERTA.

Assim diz o poeta.
Porque o amor é quando faltam palavras.
O desespero é quando sobram palavras.
Com uma bofetada. E só. É assim que se devolve amor.
O final de um amor suporta drama, mas não merece o tédio.
Quem sabe, com um pouco de sorte, até um dramalhão, algo bem perto do ridículo.
Pois não há o ridículo no fim de um amor.
O que não suporta o fim do amor que valeu a pena é o frívolo.
É o frígido, o choco.
Um comentário:
hummmm
Outro ponto interessante: adoro o Carpinejar, ele me ganha no 1o olhar:)
Gostei do texto.
bjo
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