
Talvez tenha sido em 1973. Eu morava ainda em Brasília e estava de mudança para o Rio de Janeiro.
Fui passar as minhas férias na casa de minha tia Celma, que morava no bairro de Santo Antônio, em Belo Horizonte. Tinha então 12 anos de idade. Ainda sinto o gosto de Guarapan, um refri que tomávamos na época e que já nem sei se existe mais em BH.
Lembro-me perfeitamente de ter comprado um LP todo verde, a foto do Michael Jackson, pretinho, lindo, novinho, com um cabelão "black-power", sentado com um violão no colo.

Aquele vinil foi minha trilha sonora naquele momento de transição entre a infância e a adolescência, instante mágico, maravilhoso, feliz!
Além da faixa-título, "Music and Me" (We've been together, for such a long time, now music...music...and me!), linda, um hit mundial, havia também "Happy", "Morning Glow" e tantas outras! Eu ouvia sem parar!
Crescíamos juntos, crescemos juntos, eu e MJ, "Jacko". Ele mais velho que eu apenas três anos.
Foi ficando cada vez mais famoso, polêmico, estranho, mas cada vez mais talentoso. Um monstro musical. Um absurdo dançante.
Jacko. Como Benjamim Button, foi adulto na infância, o que o obrigou a ser criança na maturidade.
Quis morar no parque de diversões que chamou de "Neverland", "Terra do Nunca", talvez nem tanto em homenagem ao célebre lugar do imaginário infantil, mas em lembrança àquele que ele nunca pôde, em criança, frequentar, ocupado que estava nos palcos do mundo, entretendo os adultos. 

Também Mozart foi assim. Ambos gênios ceifados da infância.
Não quis, portanto, ao crescer, a companhia de velhos como ele. Preferia as crianças, até porque precisava saber como elas eram.
Começo a perceber que acontece algo interessante: a mídia, as pessoas passaram um bom tempo, toda a última parte da vida do cara chamando-o de pedófilo, colocando-o em escândalos, criticando-os por suas esquisitices. Agora, que ele está morto, a ficha caiu. Descobrem que ele também tinha talento. Talvez mais talento do que qualquer artista vivo. Não mais.
E agora querem resgatar isso. Tá, antes tarde do que nunca. Mas como é dura a vida! Mortos valemos sempre mais.
Começo a perceber que acontece algo interessante: a mídia, as pessoas passaram um bom tempo, toda a última parte da vida do cara chamando-o de pedófilo, colocando-o em escândalos, criticando-os por suas esquisitices. Agora, que ele está morto, a ficha caiu. Descobrem que ele também tinha talento. Talvez mais talento do que qualquer artista vivo. Não mais.
E agora querem resgatar isso. Tá, antes tarde do que nunca. Mas como é dura a vida! Mortos valemos sempre mais.

Não tenho elementos para dizer se era ou não pedófilo.
Não tenho elementos para de dizer se era ou não louco.
Não sei se queria ser branco, se renegou a raça negra.
E não tenho tampouco elementos para julgá-lo.
O falecido Artur da Távola (saudades!), que amo, dizia que "a história registra o nome das obras e dos artistas, não de seus críticos".
Está morto Michael Jackson. E também o menino que fui aos 12 anos de idade.
Viveremos para sempre juntos naquele cantinho de minhas memórias.
E ele viverá sempre nas enormes reservas de memória do mundo.
Obrigado Michael.
Um comentário:
The authoritative point of view, curiously..
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