
"Não há nada mais útil do que ficar quieto, falando o mínimo possível com os outros e muito consigo mesmo. No ato de falar, há algo de insinuante e brando que, como a embriaguez e o amor, extrai os segredos. Ninguém conservará para si o que ouviu; ninguém revelará apenas o que ouviu. Quem não sabe calar um fato também não sabe calar o nome de quem o contou. Todo o mundo tem um amigo a quem confiar o que lhe foi confiado. Sendo assim, mesmo se ele refrear sua loquacidade e se contentar de falar a uma única pessoa, após um certo tempo, o fato passará a ser de domínio público: estará na boca de todos."
Schopenhauer
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Leio na imprensa hoje que um noivo tailandês, embriagado de felicidade por sua ventura em casar-se, resolveu embriagar-se de fato, e acabou sucumbindo à embriaguez, morrendo em seguida. Frustrante, dizia o jornal.
Na verdade, me parece que Wu, falecendo antes mesmo de receber o tratamento no hospital, viveu da forma mais emocionante e completa possível o seu matrimônio. Não tenho notícias, honestamente, de uma relação que possa ter sido tão feliz a dois. Pode-se dizer, sem dúvida, que o seu casamento foi uma festa. Enquanto durou, sua esposa sempre esteve cheirosa, chiquérrima, bem humorada e linda. Amorosa, receptiva, sempre disposta a lhe dar um olhar carinhoso ou um eterno beijo, cheio de promessas relativas ao excitante momento que viveriam a seguir.
Na saúde ou na doença, estiveram sempre juntos, e os amigos não os abandonaram.
Não houve brigas, ciúmes, apenas música, alegria, paixão.
Nunca sofreram das incertezas do amor, e das aflições da carne.
Foram sempre riquíssimos, sempre com uma viagem a fazer.
Wu soube se casar. Morreu feliz.
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Volto hoje ao blog, depois de algum tempo. A exemplo de Wu, que embriagou-se de amor, meu fiel notebook também por mim foi embriagado dia desses por um
enorme copo de cerveja que eu tomava e inadvertidamente e muito desajeitadamente nele derramei. Disse-me o técnico depois, foi a sua mãe - não a mãe do leitor, evidentemente -, mas a mãe do computador, ou melhor ainda, a sua placa-mãe, que parece não era muito dada ao álcool, vindo como o tailandês a sucumbir, sem sequer receber os primeiros socorros.

Segundo o médico-técnico, a placa-mãe teria que ser substituída. Eu aquiesci, ainda que desconfiado. Afinal, mãe, ainda que placa, não se substitui. Bingo. Veio outra, sofisticadíssima e igualmente superlativa em termos de preço. Ao ser posta no comatoso paciente, houve rejeição imediata das demais placas, que se rebelaram contra a impostora, e foi decretada então a morte cerebral do meu fiel ajudante. Somente agora pude arranjar um substituto temporário, mas não à sua altura. Portanto, este blog está de luto, pela perda prematura de um de seus mais importantes colaboradores.
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Ainda que de luto, entretanto, estou muito feliz por ter aderido, finalmente à rede TWITTER. Estou me sentindo moderníssimo e me achando super-bacana. Afinal, sabendo se conectar (ou, como eles chamam, seguir) as pessoas certas, você tem à sua disposição um cabedal enorme de informações vindas de fontes extremamente interessantes, e o mais importante: você direciona essas fontes aos seus interesses. Música, literatura, astrologia, culinária, economia, está tudo lá. Anotem aí: http://twitter.com/Ze_Kleber.
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Dia desses, embriaguei-me (para não fugir do tema do dia) com um livrinho da L&M Pocket, que está fazendo um trabalho sensacional vendendo ótimos títulos a um preço bastante razoável em lugares como bancas de revistas, livrinho da Florbela Espanca (cuja fotinha está lá encima e deveria estar aqui embaixo, mas eu não sou jeitoso com isso), poeta de sensibilidade ímpar. Destaquei este poema, que encerra o post de hoje, em homenagem ao Wu e ao meu finado computador:
Inconstância
Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!
Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!
Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...
E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...
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