sábado, 27 de junho de 2009

AS ENTRADAS SERVIDAS FRIAS E A TPM










" A sociedade, pelo menos a sociedade civilizada, jamais está pronta para acreditar no que pode ser dito de negativo sobre aqueles que
são ao mesmo tempo ricos e fascinantes. Ela sente instintivamente que as boas maneiras são mais importantes que a moral e, segundo ela, a mais alta respeitabilidade tem menos valor que a posse de um bom cozinheiro. Aliás, é uma consolação bem magra, saber que aquele que nos ofereceu um jantar ruim ou um vinho de má qualidade é irrepreensível em sua vida privada. As próprias virtudes cardeais não bastam para resgatar entradas que são servidas quase frias".
Oscar Wilde

Imaginem, depois de uma semana inteira de trabalho, o cansaço acumulado e a paciência quase esgotada. Pressões no serviço, os processos acumulados, a grana curta...Você faz o possível para manter a vida em seus trilhos.

O cachorro emagrece e cai doente, com cálculo urinário, infecção de ouvido, pior e mais caro que gente (e muitas vezes, é verdade, muito melhor que gente, também, e é só por isso é cuidado) : o estresse se acumula, se avoluma.

Você precisa descansar e sabe disso. Agora não dá, vai ter que ficar para outra hora, você sabe disso. Não tem jeito. Isso te irrita muito, mas é preciso manter a cabeça fria e lidar com os problemas mantendo deles uma certa distância regulamentar em nome da eficiência em sua resolução. De mais a mais, o corre-corre dos tempos não é mesmo mais que isso: a arte de sobreviver com o mínimo possível de baixas, de perdas e de danos. As preocupações e os aborrecimentos continuarão a aparecer todos os dias, eles não te deixarão em paz, e continuarão a fazer parte de sua rotina. O modo que você lida com eles é que os tornarão menores e menos nocivos.

Nada é pior, nessa situação, nesse frágil equilíbrio protagonizado pelo cambaleante acordo entre a sua rotina e a sua atitude do que se tornar refém do mau humor.

O mau humor é a mais séria ameaça à elegância que, apesar e acima de tudo, você consegue ainda impor à sua vida, a despeito de todas as vicissitudes das quais aqui falamos. A gente se aborrece aqui, se aperta ali, engole um grito acolá, mas se segura e, fleumático, segue em frente. Afinal, como bem disse a finada Dercy (ou se não disse, passou perto disso): "Me enterrem, mas me enterrem de pé!". Ou em outras palavras: eu morro, mas não perco a pose.

Pois a elegância faz da vida uma aventura interessante, um desafio inteligente e instigante. A vida sem elegância é apenas um prenúncio da morte . Não a quero assim.

Tenho me deliciado, bem a propósito, com a leitura de o "Manual do Dândi" (Autêntica Editora Ltda, 2009), escrito há cento e cinquenta anos por Baudelaire, Bauzac e D'Aureville. O subtítulo é "A vida com estilo". Ou seja, esses honrados homens das letras, nos fins do séc XVIII e início do séc XIX já exaltavam, com muito humor, as virtudes de uma vida elegante. Algumas das máximas que eles nos apresentam são impagáveis e merecem ser destacadas:

i. o objetivo da vida civilizada ou selvagem é o repouso;
ii. o repouso absoluto produz o tédio;
iii. a vida elegante é, numa acepção ampla do termo, a arte de animar o repouso;
iv. o homem habituado ao trabalho não podem compreender a vida elegante.

v. Corolário: Para ser fashionable, é preciso desfrutar do repouso sem ter passado pelo trabalho, ou seja, acertar uma quadra na loto, ser filho de milionário, príncipe, ter uma sinecura ou acumular vantagens.

O artista é uma exceção: sua ociosidade é um trabalho e seu trabalho, um repouso: ele é, alternadamente, elegante e desleixado; veste, ao seu bel-prazer, a camisa do operário, e decide-se pelo fraque do homem da moda; não está sujeito a leis; ele as impõe.


Então, como disse e repito, o mau humor é câncer, é inimigo da elegância. Eu já nem me refiro áquele mau humor engraçado, ou coquete, meio que fake, que afinal de contas nada mais é do que apenas mais um toque de elegância disfarçado (aquela rabugice debochada daquelas mentes iluminadas, que preferem ver as mazelas mais infelizes com um sábio toque de humor. Isso é mesmo elegante!) Eu quero falar mesmo é do mau humor de fila, de balcão de aeroporto, de loja de operadora de celular. Não, esse mau humor ninguém aguenta, é o mais brega de todos, é o mais nocivo. É o mau humor que acaba com os seus dias impiedosamente sem um motivo suficientemente sério para isso, detonando com todas as suas reservas de energia, de bom senso. Gente, peloamordedeus, vamos acabar com isso!

Não custa aqui falar daquele outro tipo, daquele que a gente nem fala direito, é o mau humor vingativo. Aquele rancoroso, que nasce na personalidade e na vida de alguns como represália à pouca sorte que julgam ter. É desse tipo de sentimento que nascem outros ainda mais vis, como a cobiça, como a inveja...

Nada, aliás, é menos elegante que a inveja.



Foto Marta Gonçalves

A inveja torna qualquer obra de arte bijouteria de mau gosto, via calúnia. Seca o objeto invejado. Costumo dizer, inclusive, que a inveja se difere da cobiça no seguinte ponto: a cobiça é querer para si. A inveja não é querer o que é seu para si; é querer que você não tenha.

Esse é o mau humor que deve ser expurgado para sempre de nossas vidas, o mau humor canceroso.

MAS NÃO CUSTA TAMBÉM DAR UM JEITINHO NAQUELE OUTRO QUE EU DISSE ANTES, MENOS GRAVE, NÉ? O MAU HUMOR TIPO TPM, NÉ?. PELO MENOS PARA A FELICIDADE E JUSTIÇA PARA CONOSCO, HOMENS, CARAS AMIGAS! NÓS SÓ QUEREMOS FAZER AS SUAS VIDAS MAIS FELIZES. POUPEM-NOS NAQUELES E DAQUELES DIAS! NÃO ACABEM COM AS NOSSAS BEM HUMORADAS EXISTÊNCIAS!!!!!!!!!!!!

Um bom final de semana!



sexta-feira, 26 de junho de 2009

MUSIC AND ME

Talvez tenha sido em 1973. Eu morava ainda em Brasília e estava de mudança para o Rio de Janeiro.

Fui passar as minhas férias na casa de minha tia Celma, que morava no bairro de Santo Antônio, em Belo Horizonte. Tinha então 12 anos de idade. Ainda sinto o gosto de Guarapan, um refri que tomávamos na época e que já nem sei se existe mais em BH.

Lembro-me perfeitamente de ter comprado um LP todo verde, a foto do Michael Jackson, pretinho, lindo, novinho, com um cabelão "black-power", sentado com um violão no colo.

Aquele vinil foi minha trilha sonora naquele momento de transição entre a infância e a adolescência, instante mágico, maravilhoso, feliz!
Além da faixa-título, "Music and Me" (We've been together, for such a long time, now music...music...and me!), linda, um hit mundial, havia também "Happy", "Morning Glow" e tantas outras! Eu ouvia sem parar!

Crescíamos juntos, crescemos juntos, eu e MJ, "Jacko". Ele mais velho que eu apenas três anos.
Foi ficando cada vez mais famoso, polêmico, estranho, mas cada vez mais talentoso. Um monstro musical. Um absurdo dançante.

Jacko. Como Benjamim Button, foi adulto na infância, o que o obrigou a ser criança na maturidade.

Quis morar no parque de diversões que chamou de "Neverland", "Terra do Nunca", talvez nem tanto em homenagem ao célebre lugar do imaginário infantil, mas em lembrança àquele que ele nunca pôde, em criança, frequentar, ocupado que estava nos palcos do mundo, entretendo os adultos.

Também Mozart foi assim. Ambos gênios ceifados da infância.

Não quis, portanto, ao crescer, a companhia de velhos como ele. Preferia as crianças, até porque precisava saber como elas eram.

Começo a perceber que acontece algo interessante: a mídia, as pessoas passaram um bom tempo, toda a última parte da vida do cara chamando-o de pedófilo, colocando-o em escândalos, criticando-os por suas esquisitices. Agora, que ele está morto, a ficha caiu. Descobrem que ele também tinha talento. Talvez mais talento do que qualquer artista vivo. Não mais.

E agora querem resgatar isso. Tá, antes tarde do que nunca. Mas como é dura a vida! Mortos valemos sempre mais.

Não tenho elementos para dizer se era ou não pedófilo.

Não tenho elementos para de dizer se era ou não louco.

Não sei se queria ser branco, se renegou a raça negra.

E não tenho tampouco elementos para julgá-lo.

O falecido Artur da Távola (saudades!), que amo, dizia que "a história registra o nome das obras e dos artistas, não de seus críticos".

Está morto Michael Jackson. E também o menino que fui aos 12 anos de idade.

Viveremos para sempre juntos naquele cantinho de minhas memórias.

E ele viverá sempre nas enormes reservas de memória do mundo.

Obrigado Michael.